Carlito exagera no esgoto e erra ao falar sobre cortes de Temer

Carlito Merss, à direita, em entrevista em rádio de S. Bento/ Reprodução Facebook

O petista Carlito Merss, candidato a uma vaga na Assembleia Legislativa de SC, derrapou em entrevista à Liberdade FM, de São Bento do Sul, no último dia 15. O ex-prefeito de Joinville disse ter mais que dobrado a cobertura de esgoto na cidade, de 12% para 32% dos domicílios - mas, segundo dados oficiais, a cobertura era de 17%, no ano de sua saída da prefeitura. E os repasses do governo federal para saneamento e o Minha Casa Minha Vida que, segundo Carlito, estariam parados desde o “golpe”, apesar de menores, não foram interrompidos. Veja a checagem completa:

“Peguei a cidade [de Joinville] com 12% de casas com esgoto tratado e saí com 32%, em quatro anos, e desde a minha saída, parou novamente essa área”.
- Carlito Merss



A declaração ganhou esse selo porque os números informados pelo candidato são superestimados e confundem o eleitor, de acordo com a nossa classificação.

Os dados oficiais não confirmam que a rede de esgoto tratado tenha mais do que dobrado na gestão de Carlito. Segundo informações da assessoria e de relatórios da Companhia Águas de Joinville (CAJ), ele “pegou” Joinville, em 2009, com 15,16% dos domicílios ligados à rede de esgoto (75,4 mil unidades), e deixou o cargo, em 2012, com 17,39%. Publicações da série Cidade em Dados e do Instituto Trata Brasil trazem números semelhantes.

Só em 2017, cinco anos após a sua saída da Prefeitura, a cidade alcançou os 32% de domicílios ligados à rede, o que mostra que a área teve avanços no governo Udo Döhler (MDB) - embora a companhia projetasse atingir 52% em 2012.

A assessoria de Carlito diz que os 32% referem-se à expansão da rede que, em sua gestão, teria sido ampliada em 153 km, ao custo de cerca de R$ 300 milhões. Mas as ligações das casas, que dependem dos moradores, informa a assessoria, começaram em seu mandato e continuaram, atingindo o percentual declarado cinco anos após a saída dele. A CAJ não respondeu se há levantamentos que evidenciem isso, nem tem relatórios disponíveis no site que corroborem com essa informação. 

“O que também fez com que Joinville demorasse a alcançar o percentual citado [32%] foi a demora da atual administração em concluir as obras iniciadas por Carlito”, afirma a assessoria.

Joinville registrava, até julho deste ano, 33,74% de domicílios atendidos pela rede de esgoto, de acordo com a CAJ. A cidade está entre as 20 piores na área de saneamento básico do ranking do Instituto Trata Brasil, que avalia as 100 maiores cidades do País.

“O que está acontecendo agora é que, depois do golpe, todos os programas pararam. O Minha Casa Minha Vida parou, saneamento parou. Todos os programas que faziam com que bons prefeitos buscassem dinheiro em Brasília, não adianta mais porque os projetos pararam”. - Carlito Merss.


Apesar de menores, os repasses do governo federal para o programa de habitação Minha Casa Minha Vida (MCMV) e para saneamento básico não pararam desde o impeachment de Dilma Rousseff (PT), em 31 de agosto de 2016. 

De 2016 para 2017, os recursos destinados ao MCMV baixaram de R$ 8 bilhões para R$ 3,6 bilhões, considerando apenas os valores pagos, não os planejados, que são mais altos. As informações são do Siga Brasil, site de acompanhamento do orçamento federal mantido pelo Senado. 

O Siga Brasil também informa queda nos repasses para saneamento urbano, mas sem paralisação. Em 2017, foram revertidos R$ 2 bilhões para essa área, ante R$ 2,7 bilhões, em 2016. Mesmo menores em 2016, os recursos superaram os investimentos de Dilma em 2015, de R$ 1,7 bilhão. 

“Sucessivos cortes no orçamento da União para o saneamento são alarmantes”, adverte em relatório a Confederação Nacional dos Municípios (CNM). Neste ano, o governo federal destinou para saneamento R$ 720 milhões dos R$ 941,6 milhões previstos para 2018. 

Os cortes vão dificultar o cumprimento da meta do Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab), afirma a instituição. Aprovado em 2013, o plano estabelece o ano de 2033 como prazo para universalização do acesso à água potável, esgotamento sanitário, manejo de resíduos e drenagem de águas pluviais no Brasil. Para atingir a meta, seriam necessários R$ 508 bilhões, dos quais R$ 300 bilhões deveriam sair dos cofres da União.

“De fato, os projetos não foram extintos”, reconhece a assessoria de Carlito, “mas os investimentos no Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) e no saneamento básico foram reduzidos drasticamente no governo Temer. Vale lembrar também que Temer chegou a suspender os novos contratos do PMCMV, em 2016” - em junho deste ano, no entanto, o Ministério das Cidades anunciou a retomada do programa habitacional, com previsão de orçamento de R$ 2,8 bilhões.

Texto - Equipe Peneira.

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Comentários

  1. Respeitosamente, a avaliação do PeneiraSite comete um equivoco ao comparar dados que, embora corretos, são desconectados com a realidade do que foi feito.
    É preciso explicar que não se pode comparar neste caso o trabalho que foi realizado naquela gestão com a quantidade de ligações de esgoto ao final do governo. As ligações de esgoto são de responsabilidade do cidadão, e não do gestor público. Este sim tem o dever de cobrar, notificar, mas isto foi feito ao logo do governo subsequente. O fato é que quando Carlito iniciou seu governo a cidade tinha pouco mais de 100 quilômetros de rede de esgoto com ligações prediais implantado na cidade, grande parte remanescente de antiga obra da Casan. Tem mérito o governo anterior, de Marco Tebaldi, de ter criado a Companhia Águas de Joinville e iniciado os projetos. Mas, foi Carlito que construiu em seu governo, através da companhia municipal 278,64 quilômetros de esgoto, o que permitiu que ao longo dos meses subsequentes ao seu governo que os cidadãos ligassem seu esgoto à nova rede e assim alcançar o número apontado de 32%. A medida é a soma dos contratos celebrados naquele período, em poder da Águas de Joinville. Sem a rede, não haveria como as pessoas ligarem. Por compromisso com a verdade, no governo Tebaldi foi implantado esgoto em parte dos bairros Jardim Paraiso e Vila Nova, através de contratos diretos com a Prefeitura e não com a Águas de Joinville, que salvo engano ainda não existia quando tais foram assinados. Mas, tais projetos ainda pendem da construção de estação de tratamento e estes esgotos ainda não podem receber ligações domiciliares, portanto, não entrariam neste calculo de 32%.
    Mais uma vez, respeitosamente, espero ter ajudado.

    Antônio Anacleto

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    1. Boa noite, Anacleto. A checagem considerou os dois percentuais informados pelo candidato, que estão errados. Essa contextualização que você fez está no texto. Optamos pelo selo Furada, e não Falso, porque o candidato não contextualizou o que disse, usando números que confundem o eleitor. A informação enviada pela assessoria, que está no texto, não comprova que os investimentos de Carlito resultaram nos 32%. Para isso, como você disse, precisaríamos colocar na mesma conta investimentos de prefeito anteriores, o que não podem ser contabilizados como de Carlito. E mesmo que os investimentos do governo dele tenham levado a esse número, a declaração ainda continuaria errada e sem contexto.

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  2. Minudências. Que tal procurar coisas efetivamente importantes?

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    1. José, indicadores do saneamento não são coisas pequenas. Joinville é uma das 20 piores nessa área entre as 100 maiores cidades do Brasil. Políticos e seus seguidores não podem fazer o uso que quiserem dos números.

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